Estou voltando, minha Veneza. Voltando para aconchegar-me em teus braços porque eu não aguento mais nem um minuto longe de você, sofrendo de tantas saudades. Quero olhar nos teus olhos, te abraçar, sentir teu cheiro e me morrer e reviver extasiado possuído pela dimensão do que sinto por ti. Quando nos abraçarmos, ainda pequenos, ruazinha-beco-viela, vamos nos transformar na metrópole dos sonhos, aquela que não cabe no mundo, porque infinitamente repleta de desejos e vontades.
Quando eu chegar, minha Veneza, trazendo ainda o frio lá de cima, quero-te beijar e receber de tua boca o hálito quente dos trópicos, que há tanto tu guardas desejando me entregar e eu ansioso desejo receber. Sim, eu me entregarei a ti como alguém que se joga das alturas esperando encontrar no solo algo que o ampare e o salve da queda e da morte. Sim, tu te entregarás a mim como se eu fosse o dono das asas ou tivesse o poder de te fazer voar e erigir-te às alturas e através do nosso encontro lá no alto nos livrássemos, eu da queda e da morte e tu da solidão e da espera.
Quero andar por tuas ruas curvas, retas, enviesadas e infinitas, minha Veneza, nas quais circulo sem precisar de mapa ou guia porque as minhas mãos já te conhecem inteira; quero mergulhar no teu mar e nos centígrados ou célsius de tua temperatura que me refrescam e aquecem o corpo e alma; quero sentir na pele o quente do teu calor, entregando-se ao prazer da minha chegada; quero apreciar-te a sombra do corpo que a luz do sol desenha nos edifícios à beira mar; quero reconhecer a tua voz no barulho das ruas e admitir não ser possível nunca, nunca mais, ficar longe dessa música-sinfonia que só você sabe compor.
Mais tarde, minha Veneza, dormir na varanda deitado na rede, tal qual hiberna um urso outrora faminto e agora saciado: saciado da fome e do afã de te rever, de te encontrar, de te tocar, de te ter; do prazer imenso que é poder estar contigo e morar em ti como se fosse a primeira e última morada, eterna mas nunca a última vez.
Em oração, minha Veneza, vou às igrejas agradecer aos deuses e ao único Deus porque você existe; porque em ti eu não encontro apenas o meu endereço, mas a minha residência fixa; porque nos teus caminhos eu nunca me perco; porque em ti eu não sinto frio e em lugar de casacos ou muitas roupas tu me ofereces o agasalho dos teus braços; porque contigo as imagens são nítidas e coloridas e nunca foscas ou esbranquiçadas; porque tu me serves o prato o predileto e não somente aquilo que eu entendo do menu.
Amanha, quando anoitecer e eu puder rever tuas janelas com vista pro mar e a tua varanda com jarro, flor e rede pra deitar, deitarei tranquilo e dormirei minha Veneza. Anelo por esta tranquilidade porque sou agora outro, depois de ter visto alguns mundos e ter revisto alguns outros. Trago deles a certeza de Heráclito: eu não sou mais o mesmo. Estava certo o filósofo, quando dizia que um homem não toma banho no mesmo rio por duas vezes. Na vez seguinte, o homem será outro, a água será outra, o mundo será outro. Sim, sou outro, depois de tudo o que vi e vivi. Sou outro na certeza de que é impossível habitar em outro lugar porque o meu endereço só quer o teu endereço, o meu corpo só quer o teu corpo, o meu coração só se alinha ao teu coração, a minha mente só pensa em ti e a minha alma só dorme em paz quando dorme sob o teu luar e só acorda em paz quando vê brilhar o teu sol, minha Veneza.
Muito lindo! É preciso ir pra usufruir do contentamento da volta! Leio, me encanto e viajo nos teus escritos.Parabéns!
ResponderExcluirJeane
Oi, sou eu, Kátia a anônima!
ResponderExcluirQue belo texto e bela declaração de amor à nossa Veneza!
Que bom que vc voltou para ela e para nós, os seus amigos!
Beijo grande,
E um homem que escreve um texto desses ainda
ResponderExcluirdiz que é partidário de "Seu Lunga". Jamais!
Só se for por ter o sentimentos à flor da pele.
Isso sim: transborda o que sente, o que pensa,
o que sonha...
Sei que viver na nossa Veneza é bom, mas conviver
com um "blogueiro" desses...é privilégio pra poucos!
E viva "nós"!!!
Pôxa, Teté, lindo demais o texto. E, igual a um filme de suspense, deixa para a última cena uma reviravolta que dá um novo sentido a tudo que foi visto antes. Belíssimo. A Monte não exagerou em nada não.
ResponderExcluirAbraço grande
Licínio
Tenho lido alguns dos seus textos e acho que têm uma qualidade acima da média.
ResponderExcluirO blog está muito bonito, as fotos e a apresentação.
os textos, referências, mas principalmente os sentimentos colocados em cada linha têm um propriedade que valem a pena ler.
A forma de apresentação torna a leitura agradável. Sem carregar na dose, nas tintas, na elucubraçao, acredito que vc tem feito estes textos de forma bem fluida, sem tanto esforço estético ou revisões sistemáticas. Acho que a fórumula é muito boa.Parabéns.