segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Carta aberta das Mães pela Igualdade

Andando por aí, recebi esta carta e resolvi publicar:
 
Nós, Mães pela Igualdade, gostaríamos de pedir dois minutos de silêncio e atenção para refletirmos sobre o Brasil que queremos. Dois minutos para lembrar nossos filhos e filhas. Durantes esses minutos, busque em suas memórias o momento em que viram pela primeira vez o bebê tão esperado e desejado com amor por sua família. Os pequenos olhos, a boca, os pezinhos. Lembre-se daquele instante mágico em que, após meses de espera, a pequenina pessoa esteve em seus braços.
 
Lembram-se do balbuciar das primeiras palavras e dos primeiros passos? O primeiro dia na escola; as festas de aniversário; as noites mal dormidas quando adoeciam; o carinho com que prepararam os presentes na escola, no dia das mães ou no dias dos pais?
 
Lembram-se da janelinha no sorriso banguela? Mal nos damos conta e as nossas crianças crescem e passam a ter vida social própria: os piqueniques, os churrascos, tardes no shopping, as baladas, a faculdade ou a escola noturna. Jovens, lindos, sensíveis, solidários, cheios de vida e de alegria.
 
Agora imaginem que um dia, voltando pra casa, seu filho ou filha é vítima de um ataque covarde na calçada, sem motivo nenhum além de ser quem é. Você pode ouvir seus gritos chamando "Mãe, me ajuda!", mas aquelas pessoas não param de bater, chutar, pisar e escarnecer; outras pessoas passam ao lado e nada fazem.
 
Sua criança grita por ajuda enquanto sua pele é rasgada, seus dentes arrebentados, seus olhos feridos, seus ossos quebrados até a morte, banhada em sangue, e você onipotente do outro lado da rua, ou mesmo em outra cidade. Aquele rostinho de outrora, agora deformado pelas pancadas. Essa imagem não sai da nossa cabeça. O sentimento é de desespero, angústia e vazio absoluto.
 
Respirem. Não é fácil passar por isso, mas essa violência é fato e acontece todos os dias em nosso país. Nossas filhas e filhos têm sido agredidos, torturados e mortos. Nossas "crianças" tem sido humilhadas, discriminadas, ofendidas, xingadas nas ruas simplesmente porque têm orientação sexual ou identidade de gênero diferente da maioria. Não escolheram ser lésbicas, gays, transexuais, travestis ou bissexuais, não se trata de uma opção. Simplesmente são assim: pessoas corajosas, dignas e honradas que assumem quem são, não sabem ser de outra forma e não querem viver atrás de máscaras.
 
As palavras de Marlene Xavier, uma Mãe pela Igualdade, resume com precisão o resultado extremo da homofobia descontrolada no Brasil: "Quando perdemos um filho, nos tornamos eternamente mutiladas e a nossa imagem é o reflexo da dor e da saudade, que serão nossas eternas companheiras". Algumas de nós carregamos no peito essa cicatriz, por isso pedimos que cada um e cada uma de vocês que estão lendo esta carta se pergunte: "E se meu filho ou filha fosse gay, lésbica, travesti ou transexual"?
 
Compreenderiam então a insegurança em que nós, mães de homossexuais e pessoas trans, vivemos cada vez que nossos filhos e filhas saem às ruas, viajam, vão ao cinema ou à escola. E, se amam seus filhos como nós amamos os nossos, entenderão a dor de uma mãe que perdeu seu rebento para a homofobia.
 
 
Mães pela Igualdade é um grupo de mães de todos os cantos do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes e mostrar ao país que a igualdade é um valor familiar. veja o site
 
 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Eu, a Psicologia, as Crianças e o Estresse (reproduzindo)

Estresse infantil

Num mundo tão agitado e concorrido, parece que a infância não tem mais lugar. É tanto o desejo de que os filhos cresçam rápido, aprendam mais rápido ainda, que as despreocupações infantis deram lugar à imediata ocupação de tempo com coisas que não deveriam fazer parte de seu universo.

Pais até fazem agenda para que não se percam com tantos afazeres e os mais diversos. A pressão é intensa sobre os pequenos ombros: tem que ser o primeiro da classe e obter sucesso em todas as atividades em que foram inscritos. Tudo muito precoce. As crianças se veem numa corrida contra o tempo como se isso pudesse garantir um futuro bem sucedido ou promissor.

E como são dependentes de seus pais, física e emocionalmente, preocupam-se em atender a todas as expectativas para não desapontá-los e perder o amor deles. Com isso, as necessidades infantis são postas de lado para que assumam o que lhes foi imposto.

Mas há um preço a se pagar pelo caminho que se decidiu seguir e, obviamente, será cobrado mais tarde e, muitas vezes, mais cedo do que se espera.

É o estresse infantil, que gera uma tensão tão extrema, insuportável mesmo, acompanhada de reações orgânicas como excesso de ansiedade junto com taquicardia, vômitos, diarreias, dores, agressividade, perda de ou sono agitado, doenças respiratórias, enfim. A criança sente como se sua segurança estivesse ameaçada. E de fato está.

Além do estresse infantil poder originar-se das altas cobranças, principalmente aquelas em que a criança ainda não se sente capaz de atingir o fim desejado e esperado, pode, inclusive, originar-se por brigas familiares e separações, abusos e violências contra ela, mudanças de vida, de casa, de escola e outras tantas, quando não foi bem preparada para poder compreender e aceitar o que vai perder. Não se pode esquecer que toda mudança envolve perdas e ganhos.

São muitos os eventos que podem provocar o estresse infantil, por isso é fundamental que os pais acompanhem seus filhos de perto, fiquem atentos a cada mudança de humor, de comportamento e mesmo de saúde sem motivo aparente, pois pode ser sinal de estresse.

Cada criança é única e o limite de tolerância e o ritmo de aprendizagem são diferentes para cada uma e deveriam ser respeitados.

Na verdade, o que ela deseja é brincar e desfrutar a infância a que tem direito. É muito triste ouvir um adulto dizer que muito cedo teve que assumir responsabilidades, que não teve infância por não ter sido permitido ou por não ter tido outra opção.

Não se pode pular uma fase de vida, pois mais tarde ela retorna. São os adultos infantilizados, que se "esqueceram" de crescer ou crianças atuando como se fossem adultos, tomando decisões que deveriam, via de regra, serem tomadas por adultos.

A criança aprende brincando sozinha ou com seus pares, como também só observando, pois é através da imitação que se dá a maior aprendizagem infantil.

Cabe aos adultos responsáveis refletirem profundamente se não estão ocupando o tempo livre de seus filhos para se verem livres deles e poderem, eles mesmos, desfrutarem seu próprio tempo livre sem preocupação ou interrupção.

Ana Maria Morateli da Silva Rico
Psicóloga Clínica