terça-feira, 16 de abril de 2013

O Velho e o Novo se confrontam...


Segundo Aurélio:
Significado de Velho: adj. Que tem idade avançada; idoso; que existe há muito tempo; antigo; desusado; que se opõe-se ao novo. Significado de Novo: adj. Que existe há pouco tempo; acabado de fazer; moço, de pouca idade; visto pela primeira vez; recente; o velho e o novo se confrontam.

Eis o velho sentado num banco de praça a ver passar o tempo e o mundo. Olhar fixo no horizonte, alheio ao que lhe passa perto, posto a sonhar com o distante que se foi. Vida quase ida, lembranças vagas, futuro quase passado. Do que lhe resta, resta pouco. Era uma vez... ele sente. E se pergunta se esta sua vida zerada foi vida vivida de verdade ou se os passos de sua estrada resultaram em nada.

Recita Clarice, dizendo "sinto saudades da minha infância (A Infância é uma faca enfiada na garganta, da qual ninguém se livra facilmente - Incêndio), do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e... e se põe a lembrar das peripécias amoroso-sentimentais-apaixonais de outrora. Vagamente lembra e só com muita dificuldade consegue concluir o verso daqueles amores que ainda vou ter" pois não mais acredita que tê-los seja possível.

Sorrindo perto dali vem o novo, andando engraçado, cheio de vida, anunciando promessas e prenunciando porvir. Olha tudo lá do alto, tal qual árvore frondosa, e de lá se regozija com as perspectivas e possibilidades de vidas por viver. Traz consigo as esperanças suas e do mundo, julgando-se o cumpridor das promessas.

Nada entende de mãos enrugadas, de semblante triste, de erros não cometidos. Também não entende o linguajar epitáfio, o lamento por não ter amado mais, ter errado mais (erros são episódios necessários), ter visto o sol nascer ou se pôr porque para ele são problemas pequenos. Amar mais ou amar menos? que diferença! Não compartilha dessas incertezas e inseguranças. Nem tampouco viaja carregando certezas ou seguranças. Apenas anda descalço pelas ruelas e avenidas da vida, viajando livre e solto, de velas içadas, jogadas ao mar, sem tantas perguntações.

Naquela tarde e esquina de praça, o velho encontrou o novo e o novo tentou entender o velho com a sua linguagem estranha e o seu discurso-do-que-já-foi, saudosismo, déjà vu. Naquela tarde e praça da vida o novo encontrou o velho e o velho tentou entender o novo com a sua linguagem e o seu discurso-do-que-virá, desprovido de saudosismo e déjà vu.

Mas queriam se entender e nesse afã, se desejaram.  E se desejaram e se apaixonaram. E apaixonados experienciaram um pouco de vida apostando que algo maior poderia resultar da alegria pueril de um e da melancolia senil do outro. Quiseram-se amar e até tentaram, acreditando em Rubem Alves: "o amor nasce na escuta". Mas não se amaram, "porque na não-escuta é que o amor termina".

É que na fala-escuta perceberam que o novo teria que acelerar o curso para alcançar o velho; e isto implicaria em atropelar algumas fases e redundar em algumas perdas. E que o velho teria que retardar o curso e esperar pelo novo; mas já não havia tempo.  Olhavam-se, queriam-se, desejavam-se... mas o tempo é soberano e a sua vontade se sobrepõe a qualquer vontade em contrário. Na verdade, o tempo e o curso da vida são como algumas catracas, só giram para a frente, só avançam.

Prementes dicotomias: um planeja a carreira, o outro conta os dias de aposentado; um não definiu o que quer da vida, o outro não tem muito mais o que querer; um ainda deve explicação ao mundo, o outro nada tem a explicar; um se apronta para festa e farra, o outro se apronta para deitar e dormir o sono dos que não vão ou dos que já foram".

Tantas coisas diametralmente opostas inviabilizaram a relação e a realização da viagem imaginada, do vinho, da música, da dança, da festa... e o paraíso não se materializou, enfim. Alguns atos e palavras mal interpretados, mal entendidos, não entendidos. Houve machucados e tristezas. De tanto, não lhes restou caminho, senão caminhar em direções opostas.

Não souberam tirar da sabedoria pueril de um e da sabedoria senil do outro, a sabedoria necessária para... 

E o velho sonhador sentou no Banco expectando que um dia por ali passasse algo mais afim, antigo, arcaico, demodé, ancestral, ancião, antepassado, vencido... Claro que isso é esquisito, mas "se você me achar esquisito, respeite também. Até eu fui obrigado a me respeitar"  - Clarice Lispector.








3 comentários:

  1. Lindo.Real.verdadeiro.

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  2. Lindo texto! Só um grande sentimento, ainda que "de passagem", poderia promover tamanha inspiração. A lição que fica? É que a vida é feita de encontros e desencontros e nós, pretensiosos que somos, buscamos entender os seus motivos. Entre velho e novo; razão e emoção; entrega e fuga...Daí realizamos o nosso percurso, por vezes buscando caminhos tortuosos ou atalhos traiçoeiros, pelo simples medo de esperar que tudo aconteça a seu tempo. E para respeitar esse "compositor de destinos", que Caetano descreve tão bem em sua "Oração ao Tempo", é preciso lembrar o quão efêmera é a vida e, acima de tudo, ter coragem! Um brinde ao nosso blogueiro!

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  3. Edson,

    Parabéns pelo texto. Achei tão bom que a meninice da minha alegria misturou-se às rugas da minha esperança de envelhecer
    cercada de coisas que valem a pena: como o seu texto, por exemplo.
    Parabéns

    Lidu Benigno

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