Hoje fui ver Dalì. Quem já chegou mais perto de mim sabe que gosto muito de suas obras e que e o quanto ele me provoca admiração. A gente já se encontrou em Nova Iorque, Londres, Madri, Barcelona e, numa das minhas pernadas pelo mundo peguei um trem e fui parar em Figueres - na Catalunha, seu lugar de nascimento, sua casa e Teatro-Museu Gala Salvador Dalì. Um dia desses irei parar em St Petesburg, na Flórida, para ver uma outra coleção imensa lá no Museu Dalì. A intenção é sempre chegar mais perto do pintor, desenhista, fotógrafo e escultor que eu humildemente chamo de "a mente brilhante da arte em todos os tempos".
Sempre que a gente se encontra aumenta o meu fascínio e diante dele eu renovo, com toda a intensidade possível, a minha capacidade de encantamento. Suas obras, especialmente da fase "surrealista", me enchem olhos e a mente. E quando acaba a visita, o tour-museu, e a gente diz até breve um pro outro, eu saio pensando... pensando... horas... horas... impregnado de tanto talento, tanta imaginação, tanta beleza plástica.
Relógios distorcidos que parecem brincar com o tempo; imagens bizarras-tipo-pesadelo, como nos sonhos; corpos nus bi-tripartidos; unicórnios e notas musicais; insetos e gavetas; elefantes e asas; borboletas e notas musicais; cabeças de cobra e boca Mae West; caramujos e pêndulos e baratas e ossos e cobras e borboletas e caramujos e relógios... pendentes... em preto e branco... coloridos... tudo ideiamente extravagante!
Na minha visita de hoje, além das obras pra ver encontrei tmbém alguns escritos. Talvez os escritos-segredos-escritos que ele tenha guardado nas tantas gavetas-sonhos-arquétipos que abundam nas suas elucubrações. Eles estavam postos nas paredes e o Museu diz serem de autoria de Salvador Dalì. Não fiz pesquisa, não atesto esta afirmação, mas destaquei três delas que me chamaram a atenção-identificação-aquele negócio tipo "tem a ver comigo".
Ei-las:
"cada manha em que acordo eu vivo, de novo, o supremo prazer de ser Salvador Dalì";
"o artista não é alguém inspirado; é alguém que causa inspiração nos outros";
"não tema a perfeição; você nunca conseguirá".
Para justificar a escolha (havia muitas outras) é fato que nós, ele que tomava antidepressivos e eu que ando de valeriana, temos estas variações. Há dias em que o maior prazer é ser eu mesmo, assim como e do jeito que sou; há outros dias em que, se pudesse, mudaria tudo, porque deu tudo errado. E estas variações, no entanto, não variam apenas de um dia pro outro; podem variar, também, de um minuto pra outro. Para suportar esta gangorra, geralmente é preciso chorar. E é tanto que, no meu caso, chorar é quase ritual religioso, é de todo dia e por isso eu sempre misturo com chORAR. Por sorte, sorrir também faz parte deste ritual, equação-equilíbrio da sanidade. A intensidade de ambos? depende da dose de valeriana, como falei. Como falei e como chorei e como orei e como sorri. É assim!
Se é artista quem causa inspiração nos outros, ei-lo totalmente artista. Quando o vejo me bate a vontade de sair a desenhar os meus desenhos malucos, agora denominados nonsense*. Putz... como gostei! Ai, no final da tarde, ainda Dalìnizado e Dalìnizando, peguei o meu canson-espiralizado e desenhei o desenho abaixo (a primeira vez que exponho assim, de peito aberto e boca exposta e meio roxo de vergonha). Como ele disse que "perfeição eu não vou conseguir", aí vai a obra-de-arte-nonsense-que-eu-chamo-de-tudo-maluco!
...
Para terminar, deixem-me dizer que eu hoje acordei e, enquanto esperava as coisas também acordarem, lembrei de um sonho bom e de uma música cantada por Marina Lima (Eu não Sei Dançar). O que sonhar, acordar e dançar têm a ver com o texto a respeito de Salvador Dalì? Sei lá! Isso fica por sua conta. É que eu estou fazendo um doutorado em lógica transcendental (risos) e de repente fiquei assim, totalmente sem lógica.
Encontrem o elo!
Ajudem-me!
Não tenho a letra aqui, vou recitar uns pedacinhos que eu sei de cor:
Às vezes eu quero chorar, mas o dia nasce e eu esqueço...
Às vezes eu quero demais, mas eu nunca sei se eu mereço...
...meus olhos se escondem onde explodem paixões...
...e tudo o que eu posso te dar é solidão com vista pro mar e muita coisa pra lembrar...
...se você quiser, eu posso tentar...
Mas eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar, pra te acompanhar.
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"nonsense-maluco" |
* classificação dada por Luísa Silvana, alguém de quem gosto muito. Ela não gosta do seu nome dito assim; prefere ser Luísa Sousa. Mas eu acho que Luísa Silvana tem mais personalidade, grita mais alto e mais forte e por isso, com desculpas, prefiro usar.
Aprendo a cada dia a dançar...
ResponderExcluirCom você, meu caríssimo irmão, com Pedrinho, com a vida.
E, como a dança, a vida é assim, um balançar. Altos e baixos e mudanças, mudanças de passo, de ritmo, de lugar.
Mas nunca deixe de dançar consigo, de ser você.
É uma alegria partilhar uma dança contigo, estando alegre ou não, isso é você e isso é MASSA!
Beijão, inspirador.
Parabéns por escrever assim!
De sua irmã mais pretinha,
Ana.
Amigo querido! Como é bom vê-lo (ou seria "lê-lo"?rsrsrss) tão inspirado! Adorei as reflexões acerca dos dois homens (o Dali e o "daqui"). Tanta sensibilidade inquieta, incomoda, faz chorar, rir, crescer. O seu "nonsense-maluco"(viva Luisinha pela participação), revela a nossa metamorfose do dia-a-dia, às vezes imaginando virar borboletas, noutras voltando ao casulo na esperança de fortalecer-se para os novos desafios. Suas obras - texto e desenho - também me remeteram a um outro maluco: inquieto, sensível, rebelde... o grande Raul Seixas, um Maluco Beleza, mais que perfeito.
ResponderExcluirÉ desse jeitinho abusado, feliz, inquieto, empolgado, irritado, mas acima de tudo, companheiro, sincero e amigo, que queremos tê-lo de volta, sem tirar nem por. Caso contrário, perde a graça. Beijo enooorme!!! Continue marcando presença, para que possamos controlar o banzo. Apesar de estar "anônimo", é claro que é Angelazinha que te escreve.
Edsonzinho... Que absal! Que mais dizer? Somos todos grandes contradições. Imperfeições. E que assim seja, porque assim o somos. "Somos quem podemos ser" neste intervalo em que o relógio se derrete. Breve. Breve... Então a intensidade que percebo nas suas leituras do mundo, por onde passa ou que passa por você... fazem valer a pena. Grande alma... bj Andréa
ResponderExcluirEdsonzinho... Que absal! Que mais dizer? Somos todos grandes contradições. Imperfeições. E que assim seja, porque assim o somos. "Somos quem podemos ser" neste intervalo em que o relógio se derrete. Breve. Breve... Então a intensidade que percebo nas suas leituras do mundo, por onde passa ou que passa por você... fazem valer a pena. Grande alma... bj Andréa
ResponderExcluirMais um texto lindo, Edson Luiz! Muita inspiração, delicadeza, bom humor e, principalmente, sensibilidade. Sensibilidade para todo tipo de arte, de emoções, de tudo o mais que a vida nos traz todos os dias, mas nem todo mundo enxerga. E tanta sensibilidade e intensidade pode trazer um pouquinho de instabilidade mesmo, fazer o quê... É profundidade, e é pra poucos!
ResponderExcluirAh, me senti honrada em, sem querer, "classificar" seus desenhos. Me achei tão "protagonista" quanto esse tal de Dalí! ;)
Beijos, Luísa Silvana
Quando eu leio este texto, eu acho que me amo e, consequentemente, choro.
ResponderExcluirNão tenho como segurar.
Aí de me dá uma vontade de não sei o quê e por isso escrevo.
É como se um não-eu escrevesse para meu-eu e
e me dissesse um não sei o quê que me faz bem,
amar-me e achar que viver vale a pena!
É por isso que eu acho que tú és um gênio!
ResponderExcluirHoje e sempre!
Que nem Dalí!
Beijos, Kátia