quinta-feira, 14 de março de 2013

Tereza de Berlim

"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, porque cada pessoa é única para nós e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai sozinho, nem nos deixa só. Leva um pouco de nós mesmos e nos deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada, há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. Esta é mais uma bela responsabilidade de nossa vida, a prova tremenda de que cada um é importante e que ninguém se aproxima do outro por acaso" (A.Mattos Soché)

Não por acaso ela se aproximou e embora tenha chegado sozinha, porque é única, deixou um monte de si mesma impregnado no meu coração, agradecido por sua impagável disponibilidade por me\nos conduzir por Berlim. Conduzindo-nos, fez-nos sentir menos nômades e forasteiros, foi tradutora, guia e companheira, mostrando-nos bairros e bares (inclusive um bar brasileiro, onde ouvimos Caetano e Sampa, dentre outras brasilidades), sugerindo roteiros e dando dicas valiosas sobre o que ver em Berlim.

Ela se chama-se Tereza. E por se chamar Tereza, já começa rimando com leveza e nobreza e beleza, dentre tantas outras possibilidades. Refiro-me à Tereza de Berlim (brasileiríssima do clã Cunha Lima), companhia agradável, sorriso franco, cabelo ao vento, passos firmes e seguros, olhar no olho, de alma leve, nobre, bela. 

Refiro-me à Tereza de Berlim: aquela que  usa a bike como meio de transporte; aquela que dança; aquela que faz Ioga; aquela que riu a ponto de se contorcer quando eu reclamei do calor em Berlim; aquela que batizou a minha cerveja enfiando o dedão no copo; aquela que ganhou um tripé de fotógrafo e agora vive a me esnobar;  aquela que carrega uma bolsa do tamanho do mundo; aquela que me transformou em alvo de bolas de neve; aquela que escuta Sophie Hunger, especialmente a música "le vent nous portera" 

Refiro-me à Tereza de Berlim, aquela que inspirou O Dicionário dos Nomes a definir o seu nome com palavras do tipo "Sensibilidade, simpatia, cooperação, diplomacia, receptividade; liberal e simpática; personalidade prestativa; tem sempre a coisa certa a dizer; diplomaticamente, sempre consegue bom entendimento entre os diversos grupos em que se relaciona; capacidade e vontade em cooperar; discreta, prefere ambientes tranquilos para trabalhar...." Fonte: Significado dos Nomes

Refiro-me à Tereza de Berlim, cujo nome inspirou cantores, cantadores e poetas a escreverem e cantarem assim: 


Por fim, refiro-me à Tereza de Berlim, para agradecer, inclusive, porque foi em sua companhia que tive o prazer de conhecer os professores Pablo e Maria Cunha Lima, pós-doctor em Linguística (a versão feminina de Ferdinand de Saussure). 

Obrigado!!! Tereza de Berlim. Presumindo sua autorização, vou postar algumas fotos que tiramos juntos:

Tereza batizou a minha cerveja

Nosotros num bar brasileiro, onde ouvimos Sampa, entre outras

Pose na neve - Tereza no centro do mundo

Tereza exibindo o tripé de fotógrafo que ela ganhou

Pedro, Ana, Maria, Pablo, eu e TEREZA BRINCANDO NA NEVE

A sala da casa de Tereza: varanda, rede e pé de maracujá

Tereza e sua bolsa porta tudo





sexta-feira, 8 de março de 2013

Salve, 08 de Março!



Para elas,
No dia delas,
Porque o mundo lhes pertence!

Cleonice, Edna, Elma, Camila, Mayara, Fátima, Jeane, Conceição, Milka, Claudiceia, Suely, Francisca, Alda, Angela, Ana, Luísa, Juliana, Gabriela, Helena, Joyce, Janaina, Jaqueline, Carla, Francina, Andrea, Surama, Rosely, Vanessa, Marta, Edneide, Maria da Paz, Iasmin, Claudia, Tatiene, Louise, Kátia, Erotildes, Elissandra, Elizângela, Neide, Olga, Elbinha, Ceiça, Gisele, Fernanda, Bárbara, Cacilda, Liduína, Alberice, Luciene, Ivanise, Marciana, Cida, Valeska, Bianca, Elisama, Ísis, Tárcia, Rosane, Silvia,Rose, Luciana, Anna Paula, Mércia, Elisa, Glaydes, Elda, Heldna, Ladjane, Rosane, Isabel, Mônica, Tainá, Larissa, karoline, Joseneide, Eva, Rouse, Altina, Jailma, Regina, Layne, Rebeca, Laurinda, Iraci, Hélida, Danielli, Raquel, Rosângela, Fabiana, Mírian, Lusimar, Zilda, Stefany, Rosimere, Taciana, Elza, Hercília, Andresa, Aline, Glenda, Paulette, Claudeny, Karina, Teresa, Wagneide, Neurisvânia, Iris, Kelly, Nadja, Lorena, Claudenice, Carmen, Keite, Itamar, Mariana, Maitê, Telma, Lourdes, Auxiliadora, Eliane, Rita, Anita, Karina, Hosana, Gisele Barbosa, Lucy, Gerlane, Glenda...





segunda-feira, 4 de março de 2013

A Canga na Roda - Que Praga!



Para quem não sabe o que é uma canga: Canga é um negócio, tipo um triângulo de madeira, que se pendura no pescoço da cabra, ou da vaca, ou do cavalo, ou de qualquer outro quadrúpede. Quando o animal tenta passar pela cerca, o triângulo engancha, impede que ele passe e vá embora. Se você não sabe não sabe o que é uma canga, provavelmente nunca frequentou um sítio ou fazenda, ou nunca viu aquela coisa pendurada no pescoço do bicho. Segundo meu amigo meu amigo Pedro Aragão é porque você, certamente, brincou de bola de vidro no tapete, risos (olha a foto da canga, lá embaixo).


Então. Eu, Pedro, Ana e Zilda, que Deus a tenha (ela está em Miami, perneando também), estávamos desbravando o mundo em 2009. Alugamos um carro e saímos pela Europa, vagueando. Carro grande para quatro pessoas e seis malas. Quase uma VAN. Eu e Pedro como os motoristas-oficiais-das-duas-damas-chefes-de-estado-da-União-Europeia. E autênticos cavalheiros, lógico. Dirigia eu a 180km e Pedro a 280km (podem dar algum desconto, se quiserem) nos divertindo. Ana e Zilda tremiam de medo, amarelando. Que danado! Pra que foi que fizeram aquela autopistaultrarápida? Bota esse negócio pra correr! E corríamos!



Chegamos em Praga. Ou chegamos a Praga? Valham-me os professores de Português. Fomos ao centro, bem ali ao lado do relógio do sol. Para estacionar o carro, encontramos um lugarzinho bem apertadinho, mal cabia uma bicicleta. Coube-me a sorte de ser o responsável por enfiar o carro naquela brecha, apesar de que ninguém acreditava que fosse possível. Cheguei a ouvir aquela frase-macho-desafio: eu digo que tu és macho se conseguires colocar este carro aí (claro que não foi com este bom português. Ficaria sem graça).  Estufei o peito e...



Botei pra fora a minha carteira de motorista Detran de Caruaru ano 1985 e mostrei pros "pragueanos" e "brasilianos ali boquiabertos" como é que se estaciona um carro grande naquele aperto. Estacionei, e de uma carreada só. Primeira-ré-primeira, e pronto! Sou macho ou não sou? Aplausos e reverências e elogios e babações e apertos de mao e abraços calorosos não faltaram. Viva Edson Luiz!!!



Saímos. Andamos. Tiramos fotos. Conversamos, sorrimos, comemos, cansamos e voltamos. Quando chegamos na brecha, ali onde havíamos deixado o carro, e no afã de mais pernear,  não pudemos sair. Tinham colocado uma canga na roda do carro. O carro não ia pra frente, não pra trás, tampouco pro alto por conta de uma tal de gravidade que inventaram por lá. O carro estava preso. Cangado. Parado. Algo do tipo never move again!



E agora, como diabos é que solta isso? Valha-nos Deus de Praga!



No vidrão da frente, havia um recado (oxente! a CTTU por aqui?) ligar para a Polzei. Carácolis aládius, é proibido estacionar em brecha! E sou eu o responsável! Vou ficar preso aqui por uns trocentos dias ou meses ou anos ou a vida inteira! Vão rasgar meu passaporte! Coitada da minha carteirinha Detran de Caruaru ano 1985! Vão-me meter o chicote, sem pena! Vou apanhar pra fofar (nordestinamente falando)! Eu me sentia um lixo, queria sair correndo, mas não sabia em qual direção. Resolvi esperar, às gargalhadas. Sou um homem ou não sou? Enfrentá-los-ei! mesocliticamente falando.



A Polizei chegou e explicou o porquê de o carro estar preso: aquele lugar era estacionamento exclusivo dos moradores, estava escrito na placa pregada (ou "Pragada") na parede. Ora, por que não escrevero isso em bom portuguêis? Nóis teria lido e entendido e num teria butado o carro aí. Mas que nada, escreveram em tcheco, aquela coisa gutural, feia de ler e de ouvir e de falar e que dá vontade de mandar ir tomar... água, pra limpar a garganta. Pagamos 100euros, tiraram a canga e a gente foi embora, dividindo a conta: 100euros divididos por 4 passageiros = rombo de 25euros. Bom castigo! Quem manda não saber ler em theco? Quem manda botar aquela coisa grande num lugar tão pequeno? Quem manda ter carteira de motorista brasileira e ser capaz daquela proeza? Quem manda botar as rodas onde não deve? Quem manda se deixar encangar? kkk.



A minha veia Zilda quase morreu de medo, mas depois ressuscitou gargalhando de quase morrer. Eu estufei o peito e saí achando que tudo aquilo acontecera por conta da inveja theca diante da minha tamanha habilidade estacionamental: estacionar um carro grande num aperto daqueles? Multa nele! Pedro, agora dirigindo, e Ana, serviço-guia-GPS-ambulante, informando o caminho. Voltamos ao hotel, quarto, cama e sono, aguardando o outro dia que viria, pelas ruas de Praga, em boa companhia, que é a melhor coisa do mundo!


Os quatro batepernas, soltos pelo mundo.

Carro grande pra caber esse tanto de gente e de mala.

Haja espaço e tamanho e mala.

A Canga. A de Praga era toda de ferro. Sem boquinha sem perdão!

sábado, 2 de março de 2013

Eu, Dalì e Marina - o Sonho e a Dança!


Hoje fui ver Dalì. Quem já chegou mais perto de mim sabe que gosto muito de suas obras e que e o quanto ele me provoca admiração. A gente já se encontrou em Nova Iorque, Londres, Madri, Barcelona e, numa das minhas pernadas pelo mundo peguei um trem e fui parar em Figueres - na Catalunha, seu lugar de nascimento, sua casa e Teatro-Museu Gala Salvador Dalì. Um dia desses irei parar em St Petesburg, na Flórida, para ver uma outra coleção imensa lá no Museu Dalì. A intenção é sempre chegar mais perto do pintor, desenhista, fotógrafo e escultor que eu humildemente chamo de "a mente brilhante da  arte em todos os tempos".

Sempre que a gente se encontra aumenta o meu fascínio e diante dele eu renovo, com toda a intensidade possível, a minha capacidade de encantamento. Suas obras, especialmente da fase "surrealista", me enchem olhos e a mente. E quando acaba a visita, o tour-museu, e a gente diz até breve um pro outro, eu saio pensando... pensando... horas... horas... impregnado de tanto talento, tanta imaginação, tanta beleza plástica.

Relógios distorcidos que parecem brincar com o tempo; imagens bizarras-tipo-pesadelo, como nos sonhos; corpos nus bi-tripartidos; unicórnios e notas musicais; insetos e gavetas; elefantes e asas; borboletas e notas musicais; cabeças de cobra e boca Mae West; caramujos e pêndulos e baratas e ossos e cobras e borboletas e caramujos e relógios... pendentes... em preto e branco... coloridos... tudo ideiamente extravagante!

Na minha visita de hoje, além das obras pra ver encontrei tmbém alguns escritos. Talvez os escritos-segredos-escritos que ele tenha guardado nas tantas gavetas-sonhos-arquétipos que abundam nas suas elucubrações. Eles estavam postos nas paredes e o Museu diz serem de autoria de Salvador Dalì. Não fiz pesquisa, não atesto esta afirmação, mas destaquei três delas que me chamaram a atenção-identificação-aquele negócio tipo "tem a ver comigo". 

Ei-las:
"cada manha em que acordo eu vivo, de novo, o supremo prazer de ser Salvador Dalì";
"o artista não é alguém inspirado; é alguém que causa inspiração nos outros";
"não tema a perfeição; você nunca conseguirá".

Para justificar a escolha (havia muitas outras) é fato que nós, ele que tomava antidepressivos e eu que ando de valeriana, temos estas variações. Há dias em que o maior prazer é ser eu mesmo, assim como e do jeito que sou; há outros dias em que, se pudesse, mudaria tudo, porque deu tudo errado. E estas variações, no entanto, não variam apenas de um dia pro outro; podem variar, também, de um minuto pra outro. Para suportar esta gangorra, geralmente é preciso chorar. E é tanto que, no meu caso, chorar é quase ritual religioso, é de todo dia e por isso eu sempre misturo com chORAR. Por sorte, sorrir  também faz parte deste ritual, equação-equilíbrio da sanidade. A intensidade de ambos? depende da dose de valeriana, como falei. Como falei e como chorei e como orei e como sorri. É assim!

Se é artista quem causa inspiração nos outros, ei-lo totalmente artista. Quando o vejo me bate a vontade de sair a desenhar os meus desenhos malucos, agora denominados  nonsense*. Putz... como gostei! Ai, no final da tarde, ainda Dalìnizado e Dalìnizando, peguei o meu canson-espiralizado e desenhei o desenho abaixo (a primeira vez que exponho assim, de peito aberto e boca exposta e meio roxo de vergonha). Como ele disse que "perfeição eu não vou conseguir", aí vai a obra-de-arte-nonsense-que-eu-chamo-de-tudo-maluco!

...
Para terminar, deixem-me dizer que eu hoje acordei e, enquanto esperava as coisas também acordarem, lembrei de um sonho bom e de uma música cantada por Marina Lima (Eu não Sei Dançar). O que sonhar, acordar e dançar têm a ver com o texto a respeito de Salvador Dalì? Sei lá! Isso fica por sua conta. É que eu estou fazendo um doutorado em lógica transcendental (risos) e de repente fiquei assim, totalmente sem lógica. 
Encontrem o elo!
Ajudem-me!

Não tenho a letra aqui, vou recitar uns pedacinhos que eu sei de cor:
Às vezes eu quero chorar, mas o dia nasce e eu esqueço...
Às vezes eu quero demais, mas eu nunca sei se eu mereço...
...meus olhos se escondem onde explodem paixões...
...e tudo o que eu posso te dar é solidão com vista pro mar e muita coisa pra lembrar...
...se você quiser, eu posso tentar...
Mas eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar, pra te acompanhar.





"nonsense-maluco"



* classificação dada por Luísa Silvana, alguém de quem gosto muito. Ela não gosta do seu nome dito assim; prefere ser Luísa Sousa. Mas eu acho que Luísa Silvana tem mais personalidade, grita mais alto e mais forte e por isso, com desculpas, prefiro usar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Uma paixão por Veneza


Há tempos eu não me apaixonava. Ultrapassada a barreira-fase dos devaneios, imaginei  ter chegado ao cais da contemplação: lugar em que as emoções se deixam levar à força de ventos bem mais tranquilos. Ao alcançar idade mais madura,  não é nada incomum conviver  melhor com as incertezas, angustiar-se menos com as perguntas, buscar menos respostas e conseguir adormecer melhor, quando a opção for esperar pelo outro dia que virá.

Eis-me, outra vez e agora, enfim, maduramente apaixonado. Acabo de chegar a Veneza e é esta a primeira sensação que me vem. Ao vê-la aproximar-se, é impossível não doer de saudade, não imaginar sua pele, seus lábios e sorriso e desejar, com o mais profundo desejo, entranhar-se em seus braços e sentir seu corpo, como se fosse o óbulo esperado por toda a vida. Estar em Veneza me faz transportar o pensamento e ir ao encontro do sabor dos beijos, abraços e amassos ainda entranhados e colados à pele que não se deixa lavar.

Chegar à praça São Marcos e encontrar aquele previsível turbilhão de gente, faz-me imaginar e perguntar se o mundo inteiro teve a mesma ideia e resolveu vir pra cá, todo, ao mesmo tempo. Encontrar o hotel, neste labirinto de becos e ruelas, não é tarefa fácil. Faz-se necessário perguntar e perguntar porque mapas e roteiros não servem, pois Veneza não é caminho traçado, é caminho a se descobrir, é corpo a se desnudar.

Assim, Veneza aos poucos vai-me permitindo aproximar. Aproximo-me e seus recantos e encantos, tal qual donzela, me esperam observar, chegar mais perto, sentir-lhes o odor, a respiração ofegante, o olhar ainda tímido, ir de lento pondo as mãos, ser minha, enfim. No tempo devido, não mais e não menos. é meu este corpo em que ela se transforma. E o meu corpo, cansado da viagem, agora é seu, pertence-lhe e se deixa possuir.

E não poderia ser diferente. Veneza nos envolve em seus becos, como se fossem braços a nos abraçar e acariciar. As suas curvas de rios nos aconchegam e nos confortam com uma leve sensação de calmaria; é como se o nosso desejo, agora saciado por sua boca, seus lábios e seu corpo inteiro, com todos os seus movimentos, nos transportasse ao cais do descanso, ao porto de chegada.

E Veneza parece mesmo ser apenas porto de chegada, porque não é um lugar para ir; é um lugar para estar. No aconchego de suas ruelas, ou atravessando suas infinitas e pequenas pontes, o tempo nos convida a parar. Aliás, o tempo passa tão suavemente devagar, sugerindo-nos contemplação, que parece personificar o eterno desejo dos amantes e apaixonados quando se encontram: que o tempo pare; que fiquemos assim, juntinhos.

Em Veneza se chega, mas nunca se vai. No entanto, posso antever que ao deixá-la, indo conhecer outros ares, levarei a certeza de que ela me deseja de volta e que eu, ansioso, desejo voltar. Ela ja me espera e, quando eu chegar faremos silêncio, olharemos um pro outro, entrelaçaremos nossos corpos, faremos amor como nunca e apagaremos da memória a eterna espera que foi a nossa separação. 

Por enquanto, deixo-me cair no balanço das gôndolas, desfruto dos biscoitos, chocolates e massas, vou-me inebriando com a variedade de gelattos, vejo Dalí, ouço Ópera e circulo por aí. Mas, geralmente paro e lembro de ti, Veneza, diante das igrejas, monumentos e luzes que cruzam o meu caminho. Nestes momentos tu te materializas, eu te pego a mão e a gente caminha junto, comentando isso, aquilo, achando belo, achando feio, caminhando... enfim... é tanta e tanta a vontade de te rever, que o dia de ir embora, de tão perto, parece que nunca vai chegar.

...
Que não seja imortal, porque a gente não precisa estar colado pra estar junto;
Posto que é chama, em palavras estão dizendo um pro outro o quanto se adoram;
Mas que seja infinito, porque aonde quer que eu vá você está em tudo;
Enquanto dure, pois é tudo o que eu preciso.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eu, a velhinha e Leon - Direto de Viena



Ocorre que hoje eu saí por aí, perambulando por Viena, e fui parar no Leopold Museum. Como assim? Aquilo não é museu! Aquilo é  assombração! Como é que pode? Por que Ana e Pedro me recomendaram ir lá? Quem botou aquilo na lista de pontos a serem visitados em Viena? É de dar medo! É de fazer correr e ir embora! Olhem só o folder do museu. Eu me recuso a reproduzir porque pessoas de bem devem ler este blog (risos) mas aos interessados repasso os dois links abaixo. Podem abrir, não é vírus, é bilau. 


Pois é. A "nude man" estava por todo canto. Pra onde você olhava tinha "nude man". Era "nude man" pra lá, era "nude man" (pra cá não) pra lá de novo. Uma obra aqui, outra acolá (sim, há obras muito interessantes e o museu deve ser visitado) e lá vinha de novo a "nude man"... Vai-te!
Lá estava eu no museu. -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4 andares e a gente acaba cansando de tanto subir escada, rodar pra lá e pra cá. Fatalmente chega a hora de procurar o WC para virar obra de arte e transformar-se em "nude man" por alguns pingos. Lá fui eu pro WC, caminhando a passos largos mas tranquilos, chego lá e sou barrado-parado-bloqueado-esbarrado por três senhoras idosas que estavam paradas na entrada, sorrindo escancaradamente. Certamente me disseram, em bom alemão, sieber histswwd whsktl wzs, tpw´q senwhi!!! Sorri aquele sorriso de leso e dei razão a Ana e Pedro: eles sempre dizem que as velhinhas gostam de mim. Fiquei ali, esperando o desenrolar dos fatos, ver o que iria acontecer. Eu não iria atropelar as velhinhas e nem mostrar-lhes a "nude man", por isso continuei esperando. Daí a pouco, uma delas sai do WC masculino, ainda atacando as calças, olhou-me e disse que wmxti wxxhdt hrzgi ortonw hbmrht swdfgh ijwlei dotzhw (desculpas, meu filho. Eu estava muito apertada, quase sujando as calças e não pude esperar a fila do WC feminino. Por isso entrei aqui e as minhas coleguinhas ficaram vigiando a porta para ninguém entrar e me mostrar a "nude man"). 
Ah, entendi, senhora, não se preocupe, não tem problemas, eu sei como é isso. Semana passada eu também me senti assim em Amsterdã. Era uma dor de barriga e na barriga tão da mulesta, saía por cima e saía por baixo, tanto que eu tive que ir a uma farmácia comprar um remédio. A senhora não imagina quanto foi difícil informar à funcionária da farmácia que eu estava mica e vomi, tudo em gestos, para ela me indicar algum remédio. Quase foi preciso eu expor a minha "nude man" para ela entender que não se tratava de infecção urinária!!!
Eu entendi a velhinha tão simpática. Ela me entendeu, tão simpaticamente. Percebemos que não só a matemática e a música são linguagens universais. Na linguagem WC, também é possível estabelecer diálogo. Sorrimos um pro outro, ela se foi e eu entrei no WC me lembrando de Leon.
Tá. Mas o que é que Leon tem a ver com isso?
Em Anna Karenina, LEON ou Lev TOLSTOI, ou Tolstói, ou Tostoy fala que, diante dos problemas complexos da vida, a gente deve sorrir, encará-los sorrindo, divertindo-nos. Não sei se foi bem assim que ele escreveu, não estou com o texto agora para conferir. Também não sou papagaio pra sair repetindo o que o outro disse. Até porque se ele não disse desse jeito é porque não conhecia a língua portuguesa e nem tinha talento nordestino pra se expressar (quem quiser conferir o que ele escreveu, Ana Paula tem o livro baixado no Kindle. Todo mundo pode pedir emprestado Êba!!!).
Sorrindo, encerro o meu bla bla bla de hoje. Digo de hoje porque Pedro e Ana me deixaram à vontade para eu escrever e escrever. E como eu gosto de escrever, é provável que eu apareça por aqui mais algumas vezes. No entanto, sou tímido para me expor assim. Só o faço atendendo a pedidos, cartas, telegramas, e-mails, outdoors, watsapp e postal sonoro (eu já sei que não é do seu tempo). Por isso, só volto a escrever se 523 pessoas me pedirem, calorosamente. Claro que não é necessário que todas se expressem. Se apenas uma delas disser sim, eu vou entender que ela, democraticamente, está representando todas as 522 pessoas que optaram por não dizer não - kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!.





Quem vai dizer sim?





Ah. E não esqueçam! De 29.02 a 28.03.2013 tem show da MUSA (do Calypso) em Amsterdã. Quem quiser, ainda dá tempo comprar passagem e vir. Mas venham nas carreiras porque é show pra lá de bom e os ingressos se esgotam rápido (sorriam!!!).





Eu vejo o mundo e ele começa em Recife


Há duas semanas deixei o conforto do meu lar, botei a mochila nas costas e bati asas com Ana e Pedro (ordem alfabética), dizendo: mundo, lá vou eu!

Passei por Chicago (imponente) e Washington (cultural), deixando pra trás a sensação de que foi bom ter visto. Cheguei a Amsterdã (e olha que havia expectativa!) e não estava muito bem fisicamente e saudemente (comi algo que me fez mal e... vou poupá-los dos detalhes). Frio danado, eu cansado, perna bamba, sem querer/poder comer direito; o resultado é que as minhas expectativas por Amsterdã ficaram pra depois: andar de bicicleta, ver se haxixe presta, investir nos imóveis e vitrines da rua vermelha, nadar naquela água geladinha (ops!), dentre outros.

Fato é que chegou o dia de arrumar as malas de novo e rumar pra Viena, a próxima parada. Agora sozinho, Ana e Pedro me abandonaram, lá vou eu para o aeroporto. Chegando lá, nada de passagem. Comprei, paguei e não usei (a empresa operadora debitou 550conto no meu cartão e não emitiu o bilhete). Comprei outra passagem, ora! e eu sou homem de desistir? 

Agora estou eu em Viena. Cheguei ontem, dia 22.02.2013. Cheguei sob neve. Ou seria uma nevasca (exagero meu)? Corri pro hotel e pela janela eu só via aquela chuvinha branca. De tanto chover branco, tudo foi ficando branco, e se acumulando, e escondendo tudo, e um lençol branco se foi esticando sobre a calçada, os carros, a praça, as árvores, tudo emocionantemente lindo e branco de se ver.

Eu já tinha visto neve, há tempos, outros tempos, quando eu era outra pessoa. Mas dessa vez, como eu nunca perdi a capacidade de me encantar, fiquei encantado, embasbacado, extasiado. Eita imagem linda demais, sô!

Dia amanheceu, hoje, e eu fiquei meio com medo de sair. Medo de a roupa não dar conta de tanto frio, de o sapato não ser "sapatomachocachorrodagota" que pisa em gelo e não solta a sola, de me atolar naquela lama branca. Não me surpreendeu sentir medo, eu tenho medo é de tudo, mas tem uma coisa que me move: enfrentar meus medos. E lá fui eu. Comecei pela casa/museu de Freud (eu, futuro psicólogo iria começar por onde?). De lá, saí disposto a pisar em todo gelo/neve/lama branca que me aparecesse pela frente. Fui, pisei e tirei estas fotos. Compartilho-as, atendendo a cartas, pedidos, telegramas, e-mails, outdoors, chamadas de voz, sms, watsapp e postal sonoro (não é do seu tempo, eu sei). Dizem que sou fotógrafo, mas não sou. Eu sou apenas um aluno básico de Pedro Lima. 

Espero que gostem das fotos. Eu gostei. Mas eu gosto de tudo o que eu faço, por isso sou suspeito. 





Não é neve no rosto. É barba branca, mesmo



Aqui eu exercitando a capacidade de me encantar


Até Strauss tocou para eu ouvir


Pra não dizer que ficou tudo em preto e branco, a noite vienense

O downtown que oxenteou!

Hoje me perdi. Ás vezes é necessário se perder, pra gente poder se achar, não é mesmo? Que graça tem em achar o que não tá perdido? Que graça tem procurar algo que a gente já sabe onde está? Quer ver?: Imagine que você vai passando, abre uma gaveta meio sem querer e aquela tesoura de cortar unha está bem ali. Você não tinha perdido a tesoura!  Você não estava procurando a tesoura! Você nem tinha pensado na tesoura. Mas a sua unha, por acaso, está grande e merecendo ser cortada! Que saco! A desgraçada da tesoura, ali naquele lugar, tirou de você o direito àquela sensação de "pqp, kd a tesoura que eu deixei aqui... ali... acolá". Que graça tem isso? Nenhuma!

Pois é. Foi por isso que me perdi, para poder me achar, ora. Tá pensando que sou besta? Tranquei o mapa da cidade no bolso do casaco, passei o zíper e deixei ele ali, sem respirar. Fui andando, andando, entrei aqui, saí ali, friozinho bom, subi, desci, olhei, não quis olhar, atravessei a rua, voltei, olhei pra trás, olhei pra frente, fui, desfui... O fato é que em vez de andar no sentido que eu havia imaginado, pra frente (eu sou o perfeito antiGPS), fui na diagonal.  Em vez de centro, fui pra ribanceira, andei de lado feito viralata, enviezado como diria Pedro Lima. Tirei foto, admirei, saí bestando  e pernando, enfim.

Quase 14horas, uma fomezinha batendo no bucho, eu tive pena do mapa e quis ver se ele ainda estava vivo, se ainda respirava, se prestava pra alguma coisa. Parei numa esquina e pensei: agora eu vou me achar. Olhei o nome das duas ruas (foi assim que Ana me ensinou) e decorei: nãoseioquelá strabe e nãoseioquelá strabe. Pronto. Nomes decorados, vamos ao mapa. Olhei de frente, olhei de lado, de cabeça pra baixo, de cabeça pra cima, e nada. Tive vontade de rasgar o desgraçado. Tanta strabe escrita no mapa e nenhuma delas era a strabe que eu estava procurando. Droga! Strabe! Cacete!. É sempre assim, comigo é sempre assim. Se fosse Ana Paula, já teria achado há séculos estas malditas strabe no mapa. Só porque sou eu, a desgraçada da strabe se esconde, muda de lugar, e até muda de nome. Se eu descubro qual foi o cão que inventou esta tal de strabe eu mando queimar o inferno dele. Que mané de queimar, eu mando á jogar água!

Como nenhuma das strabe apareceu no mapa, escafederam-se, entrei num café e pedi um café (lógico, iria pedir o quê? caninha 51?). Dei um sorrisozinho de velho idiota pra garotinha e perguntei, num nordestinglês de dar pena: 

- cudiúrelpimi? 
- Of course, sr!
- ruereaiemi? aiemilosti! xoumithispleiceindêmep!
- where would you like to go?

Eu me lembrei de Alice (aquela menininha besta do País das Maravilhas) conversando com o coelhinho: quando a gente não sabe aonde vai, qualquer caminho serve!

Eu não sabia aonde queria ir. Eu só queria saber onde eu estava. Mas ela também olhou o mapa e não conseguiu achar o lugar. É que o lugar onde eu estava era tão longe que não constava naquele mapazinho de M. Meu Pai do Céu Todo Poderoso, eu viajei de Viena a pé? Caraca! Sapato bom danado! Eu criei asas? Cadê a minha capa de teletransporte? Tudo isso pensei, tentando entender. Para não deixar a garotinha me olhando com aquele ar de "coitadinho do velhinho gagá, deixaram ele sair de casa sozinho", eu respondi:

- I would like to take a bus or a metro, going downtown. PQP titio!, detonei no inglês (pensaram que eu não sabia, não foi? eu fui guia na feira de Cararu, rapá).

Ela me disse o caminho bem direitinho (left, right, bus stop, metro station...). Entendi tudo.  Mas o melhor vocês ainda não sabem. Claro, eu não contei. Quando eu pronunciei a palavra "downtown" quase me faltou a respiração. Subiu-me um calafrio. Deu-me uma quase-agonia. Senti-me meio tonto. Sofri. E não foi por estar perdido e com fome, Foi  um sofrimento de saudade. Uma melancolia danada de grande, tudo por conta de um "downtown" que eu jamais conseguirei esquecer.

A dor é tanta que dá vontade de parar o texto (e isso é texto? autoengano também faz bem) e me agarrar com aquele lençol, apagar a luz e ficar só pensando, relembrando e remoendo a lembrança (relembrando a lembrança é f...) daquele "downtown" que até hoje, passados quase 4 anos, me deixa assim, chein dos praquêisso!. Mas como eu sei que tem muita gente curiosa no mundo, e minha mãe disse que curiosidade faz criar lumbriga, eu vou ser bonzinho e contar pra vocês a fantástica história do "downtown".

Estávamos em NY (um bateperna que fizemos eu, a véia Zilda, Pedro e Ana) aguardando o metrô. O metrô chega, os três emburacam apressados e eu, leso, vou entrando bem devagarinho (eu não tô comendo roubado!). Antes de entrar, alguém behind me me dá um cutucão. Viro pra trás, olho, vejo e penso: é meu dia de sorte! Levar um cutucão daquela loira linda, de olhos claros, pele de seda e boca mae west é quase o mesmo que ganhar uma fazenda cheia de gado. Pois bem, a deusa me cutucou e perguntou: this train goes downtown?. Meu padim ciço, aquilo é que era um downtown. A loura tinha um downtown de fazer anoitecer qualquer sol do meio dia. Era um downtown de arrepiar, mô vei. Aquele downtown fazia falar e calar, fazia voar e aterrissar, fazia pensar até em... xa pra lá!

Eu fiquei sem fala, mas é claro que eu entendi a pergunta.  Entendi a pergunta, mas não sabia a resposta. Aí eu, para não fazer feio, gritei: Ana (Ana é um GPS ambulante)! este trem vai pro centro? Ana respondeu: vai não! e eu disse pra loura: vai sim! Aí a loura me olhou e disse: oxente, você é brasileiro? fala português? Sorriu o sorriso mais lindo do mundo e... 

Entramos no trem e meu coração foi batendo, disparando, taquicardiando, saindopelaboqueando. Não era possível. Aquilo era um sonho. Uma loura com um downtown daquele, vigimaria!. Com um sorriso daquele! E, melhor, eu era o felizardo-presentado daquilo tudo! Fechei os olhos, sentei a loura no meu colo, cheirei-lhe  o cangote, disse que a amava para sempre e fiquei ali, ali eternamente e para sempre segurando os ponteiros do relógio e o rabo do sol para que o tempo nunca mais andasse...

Passou-se um tempo de mais ou menos não sei quanto, até que o trem foi devagazeando, devagazeando e parou; parou na próxima estação. Aquele solavancozinho me fez acordar e, de supetão, perceber que a loura do downtown não veio pra downtown, foi pra no-downtown, outro lugar que até hoje eu não sei onde é. Quando percebi que a loura não tinha entrado no trem  e que eu tinha ficado daquele jeito, totalmente oxenteado, só por que fiquei pensando  no downtown, eu soltei um oxente de espantar qualquer nordestino que exista do oco do mundo a NY. Levantei-me, ajeitei-me e tive que pensar na morte da bezerra para me desoxentar e poder descer do trem sem aquela cara de quem tá escondendo alguma coisa no bolso. Uma coca-cola, por exemplo, que é coisa muito feia de se esconder. kkkkkkkkkkkkkkkk

Fui tão feliz por um tantin de tempo, vocês nem imaginam. Eu, que naquele trajeto-uma-estação-e-outra, tive a sensação de ter em meus braços o melhor downtown da minha vida acabei adoecendo, até hoje, de uma doença sem cura. Toda vez que ouço ou leio downtown ou toda vez que me aparece um downtown bem caprichado, eu solto-lhe um oxente! lembrando daquele downtown que marcou tanto a minha vida. 

Ainda hoje rio e choro e me lembro e conto a história para quem quiser chorar e rir comigo (sejam solidários, sorriam ou chorem, não ignorem!).

Metrô de NY - not going downtown!



Enquanto eu me perdia
Depois que eu me achei
Quando anoiteceu


Terminei! Agora vou falar 03 (três - treis) coisas. Prestem atenção:

UMA: Quero deixar bem claro que só voltei a escrever porque duas pessoas (putz! um incremento de 100% não é pra todo mundo não. Detonei a Yoani Sánchez) disseram SIMMMMMMM a aquela imposição que fiz a respeito de voltar a escrever de novo no Blog de Pedro, blza?

DUAS: Se você conseguiu ler a porcaria do texto (autoengano, de novo!) eu peço que você me diga: Que título você daria a esta porcaria? Comente e responda, dando sua sugestão.

TRÊS: Eu e meus botões vamos escolher o MELHOR TÍTULO. A sugestão vencedora vai ganhar um prêmio diretamente from Viena - Êba!!!. Mas respondam logo, vou embora na quinta-feira de madrugada. Aguardo.