segunda-feira, 10 de junho de 2013

Eu, a vírgula, o ponto e...

Encontrei na Internet um artigo que dizia assim dois pontos Aprenda definitivamente a usar vírgula com quatro regras simples ponto 1 - Usa-se a vírgula para separar elementos que você poderia listar ponto Veja esta frase dois pontos reticências Como assim ponto de interrogação Não consigo entender ponto de exclamação O texto quer ensinar o uso da vírgula vírgula mas não usa a vírgula ponto e vírgula usa o ponto vírgula os dois pontos reticências E eu vírgula tentando entender vírgula questiono vírgula uso o ponto de interrogação vírgula uso a exclamação vírgula e não entendo quase nada ponto


Acho que nunca tive muita dificuldade para usar os sinais de pontuação. Mas tem umas coisas que sempre me deixaram meio tonto. Diz-se que a vírgula é uma pausa curta, uma respiração rápida. E que o ponto é uma pausa longa, uma respiração profunda. Mas, quando aparece um ponto vírgula, como é que eu vou fazer uma pausa curta e longa, ao mesmo tempo? como é que vou fazer uma respiração curta e profunda, ao mesmo tempo? Não sei!


Também se diz: se há pausa, há vírgula. Isto sempre me confundiu porque cada pessoa tem a sua pausa própria, e esta pausa varia de acordo com o jeito ou ritmo de falar de cada um. Sendo assim, não pode haver regra. Eu uso a vírgula nas minhas pausas, você usa a vírgula nas suas pausas e ponto. E se é ponto, não é vírgula. Aliás, uma coisa que me agrada muito na vírgula é o fato de ela não ser ponto final. Não sendo ponto final, depois dela vem algo mais, algo a mais, um dito, uma fala, um escrito, um devir.


Também sempre questionei a quantidade de sinais de pontuação na nossa língua. Alguns deles carecem de importância e outros têm valor igual ao dos créditos de um filme ou a jarros sem flor. Parêntesis e travessão, por exemplo, ninguém quer saber, porque se saírem do texto não vão fazer falta, não afetam a estrutura.  


Outros, no entanto, são gostosos de usar, e acho que fazem o escrito ficar bonito. Uso-os à beça, quero nem saber o que dizem os estilistas do texto.


Gosto do Ponto de Interrogação porque ele instiga uma resposta ou reflexão, quer saber o que eu diria ou, que você diria? Gosto do ponto de exclamação porque ele carrega consigo emoção, espanto, arrebatamento, entusiasmo, suspresa! Dos dois pontos porque indicam um prenúncio, anunciam algo que há de vir: uma citação, enumeração, esclarecimento. Das reticências, porque indicam continuidade, deixam o espaço aberto para que o leitor complete, viaje, elucubre também. Sobre estas, fico com Mário Quintana: "as reticências são os três passos do pensamento que continuam por conta própria o seu caminho..."


Não gosto do ponto final porque ele limita,  fecha o cerco, conclui, impede avançar. Parece a morte, necessária e inevitável. Na verdade, seria bom nunca precisar usá-lo e deixar o final com reticências, que permitem mais, não deixam morrer o texto nem a ideia. Para encará-lo, parafraseio Woody Allen: "não tenho medo da morte. Apenas não quero estar lá quando isso acontecer". Se eu pudesse, também não estaria lá quando o ponto final aparecesse.


Ocorre que um dia desses recebi uma mensagem via celular e o texto acabava assim :D 


Respondi a mensagem confessando não ter entendido o :D, já que o remetente não se chamava Daniel, nem Dilma e nem Deus. Recebi, em resposta, que :D significa "dois olhinhos e uma boca, que compõem uma carinha sorrindo". 


Viajei, fiquei curioso, recorri à internet e procurei no Google, o oráculo do século. Descobri que a "tribo" usa uma linguagem cheia das letrinhas e sinais que formam carinhas bonitinhas e que os mais velhinhos como eu precisam aprender a interpretar. Em suma, a "tribo jovem" encontrou uma nova utilidade para os sinais de pontuação. Brincar de de carinhas é muito mais interessante do que aprender regrinhas, eis a dica decifre-as!


Mas, por que escrever tudo isso? Porque segundo alguém de quem não lembro o nome, "não existe literatura; existe autobiografia". Falando de sinais de pontuação, também falo de mim. Preferir reticências e interrogações a pontos finais e travessões é dizer um pouco do que sou. Acabo sorrindo, acompanhando Nietzshe: “...falsa seja para nós toda verdade que não tenha sido acompanhada por uma gargalhada


Claro que não vou terminar com ponto final. Afinal de contas, continuo elucubrando...









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