Hoje me perdi. Ás vezes é necessário se perder, pra gente poder se achar, não é mesmo? Que graça tem em achar o que não tá perdido? Que graça tem procurar algo que a gente já sabe onde está? Quer ver?: Imagine que você vai passando, abre uma gaveta meio sem querer e aquela tesoura de cortar unha está bem ali. Você não tinha perdido a tesoura! Você não estava procurando a tesoura! Você nem tinha pensado na tesoura. Mas a sua unha, por acaso, está grande e merecendo ser cortada! Que saco! A desgraçada da tesoura, ali naquele lugar, tirou de você o direito àquela sensação de "pqp, kd a tesoura que eu deixei aqui... ali... acolá". Que graça tem isso? Nenhuma!
Pois é. Foi por isso que me perdi, para poder me achar, ora. Tá pensando que sou besta? Tranquei o mapa da cidade no bolso do casaco, passei o zíper e deixei ele ali, sem respirar. Fui andando, andando, entrei aqui, saí ali, friozinho bom, subi, desci, olhei, não quis olhar, atravessei a rua, voltei, olhei pra trás, olhei pra frente, fui, desfui... O fato é que em vez de andar no sentido que eu havia imaginado, pra frente (eu sou o perfeito antiGPS), fui na diagonal. Em vez de centro, fui pra ribanceira, andei de lado feito viralata, enviezado como diria Pedro Lima. Tirei foto, admirei, saí bestando e pernando, enfim.
Quase 14horas, uma fomezinha batendo no bucho, eu tive pena do mapa e quis ver se ele ainda estava vivo, se ainda respirava, se prestava pra alguma coisa. Parei numa esquina e pensei: agora eu vou me achar. Olhei o nome das duas ruas (foi assim que Ana me ensinou) e decorei: nãoseioquelá strabe e nãoseioquelá strabe. Pronto. Nomes decorados, vamos ao mapa. Olhei de frente, olhei de lado, de cabeça pra baixo, de cabeça pra cima, e nada. Tive vontade de rasgar o desgraçado. Tanta strabe escrita no mapa e nenhuma delas era a strabe que eu estava procurando. Droga! Strabe! Cacete!. É sempre assim, comigo é sempre assim. Se fosse Ana Paula, já teria achado há séculos estas malditas strabe no mapa. Só porque sou eu, a desgraçada da strabe se esconde, muda de lugar, e até muda de nome. Se eu descubro qual foi o cão que inventou esta tal de strabe eu mando queimar o inferno dele. Que mané de queimar, eu mando á jogar água!
Como nenhuma das strabe apareceu no mapa, escafederam-se, entrei num café e pedi um café (lógico, iria pedir o quê? caninha 51?). Dei um sorrisozinho de velho idiota pra garotinha e perguntei, num nordestinglês de dar pena:
- cudiúrelpimi?
- Of course, sr!
- ruereaiemi? aiemilosti! xoumithispleiceindêmep!
- where would you like to go?
Eu me lembrei de Alice (aquela menininha besta do País das Maravilhas) conversando com o coelhinho: quando a gente não sabe aonde vai, qualquer caminho serve!
Eu não sabia aonde queria ir. Eu só queria saber onde eu estava. Mas ela também olhou o mapa e não conseguiu achar o lugar. É que o lugar onde eu estava era tão longe que não constava naquele mapazinho de M. Meu Pai do Céu Todo Poderoso, eu viajei de Viena a pé? Caraca! Sapato bom danado! Eu criei asas? Cadê a minha capa de teletransporte? Tudo isso pensei, tentando entender. Para não deixar a garotinha me olhando com aquele ar de "coitadinho do velhinho gagá, deixaram ele sair de casa sozinho", eu respondi:
- I would like to take a bus or a metro, going downtown. PQP titio!, detonei no inglês (pensaram que eu não sabia, não foi? eu fui guia na feira de Cararu, rapá).
Ela me disse o caminho bem direitinho (left, right, bus stop, metro station...). Entendi tudo. Mas o melhor vocês ainda não sabem. Claro, eu não contei. Quando eu pronunciei a palavra "downtown" quase me faltou a respiração. Subiu-me um calafrio. Deu-me uma quase-agonia. Senti-me meio tonto. Sofri. E não foi por estar perdido e com fome, Foi um sofrimento de saudade. Uma melancolia danada de grande, tudo por conta de um "downtown" que eu jamais conseguirei esquecer.
A dor é tanta que dá vontade de parar o texto (e isso é texto? autoengano também faz bem) e me agarrar com aquele lençol, apagar a luz e ficar só pensando, relembrando e remoendo a lembrança (relembrando a lembrança é f...) daquele "downtown" que até hoje, passados quase 4 anos, me deixa assim, chein dos praquêisso!. Mas como eu sei que tem muita gente curiosa no mundo, e minha mãe disse que curiosidade faz criar lumbriga, eu vou ser bonzinho e contar pra vocês a fantástica história do "downtown".
Estávamos em NY (um bateperna que fizemos eu, a véia Zilda, Pedro e Ana) aguardando o metrô. O metrô chega, os três emburacam apressados e eu, leso, vou entrando bem devagarinho (eu não tô comendo roubado!). Antes de entrar, alguém behind me me dá um cutucão. Viro pra trás, olho, vejo e penso: é meu dia de sorte! Levar um cutucão daquela loira linda, de olhos claros, pele de seda e boca mae west é quase o mesmo que ganhar uma fazenda cheia de gado. Pois bem, a deusa me cutucou e perguntou: this train goes downtown?. Meu padim ciço, aquilo é que era um downtown. A loura tinha um downtown de fazer anoitecer qualquer sol do meio dia. Era um downtown de arrepiar, mô vei. Aquele downtown fazia falar e calar, fazia voar e aterrissar, fazia pensar até em... xa pra lá!
Eu fiquei sem fala, mas é claro que eu entendi a pergunta. Entendi a pergunta, mas não sabia a resposta. Aí eu, para não fazer feio, gritei: Ana (Ana é um GPS ambulante)! este trem vai pro centro? Ana respondeu: vai não! e eu disse pra loura: vai sim! Aí a loura me olhou e disse: oxente, você é brasileiro? fala português? Sorriu o sorriso mais lindo do mundo e...
Entramos no trem e meu coração foi batendo, disparando, taquicardiando, saindopelaboqueando. Não era possível. Aquilo era um sonho. Uma loura com um downtown daquele, vigimaria!. Com um sorriso daquele! E, melhor, eu era o felizardo-presentado daquilo tudo! Fechei os olhos, sentei a loura no meu colo, cheirei-lhe o cangote, disse que a amava para sempre e fiquei ali, ali eternamente e para sempre segurando os ponteiros do relógio e o rabo do sol para que o tempo nunca mais andasse...
Passou-se um tempo de mais ou menos não sei quanto, até que o trem foi devagazeando, devagazeando e parou; parou na próxima estação. Aquele solavancozinho me fez acordar e, de supetão, perceber que a loura do downtown não veio pra downtown, foi pra no-downtown, outro lugar que até hoje eu não sei onde é. Quando percebi que a loura não tinha entrado no trem e que eu tinha ficado daquele jeito, totalmente oxenteado, só por que fiquei pensando no downtown, eu soltei um oxente de espantar qualquer nordestino que exista do oco do mundo a NY. Levantei-me, ajeitei-me e tive que pensar na morte da bezerra para me desoxentar e poder descer do trem sem aquela cara de quem tá escondendo alguma coisa no bolso. Uma coca-cola, por exemplo, que é coisa muito feia de se esconder. kkkkkkkkkkkkkkkk
Fui tão feliz por um tantin de tempo, vocês nem imaginam. Eu, que naquele trajeto-uma-estação-e-outra, tive a sensação de ter em meus braços o melhor downtown da minha vida acabei adoecendo, até hoje, de uma doença sem cura. Toda vez que ouço ou leio downtown ou toda vez que me aparece um downtown bem caprichado, eu solto-lhe um oxente! lembrando daquele downtown que marcou tanto a minha vida.
Ainda hoje rio e choro e me lembro e conto a história para quem quiser chorar e rir comigo (sejam solidários, sorriam ou chorem, não ignorem!).
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Metrô de NY - not going downtown!
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Enquanto eu me perdia |
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Depois que eu me achei |
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Quando anoiteceu |
Terminei! Agora vou falar 03 (três - treis) coisas. Prestem atenção:
UMA: Quero deixar bem claro que só voltei a escrever porque duas pessoas (putz! um incremento de 100% não é pra todo mundo não. Detonei a Yoani Sánchez) disseram SIMMMMMMM a aquela imposição que fiz a respeito de voltar a escrever de novo no Blog de Pedro, blza?
DUAS: Se você conseguiu ler a porcaria do texto (autoengano, de novo!) eu peço que você me diga: Que título você daria a esta porcaria? Comente e responda, dando sua sugestão.
TRÊS: Eu e meus botões vamos escolher o MELHOR TÍTULO. A sugestão vencedora vai ganhar um prêmio diretamente from Viena - Êba!!!. Mas respondam logo, vou embora na quinta-feira de madrugada. Aguardo.